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terça-feira, julho 21

ADOPTA-ME*



Pensava eu, enquanto percorria aquela estrada, como terei saudades de a fazer todos os dias, para no fim dela depositar a minha energia em nome de coisas em que continuo a acreditar profundamente... Pensava entretanto que não valia a pena ficar a olhar apenas pelo retrovisor, porque, afinal de contas, à frente há mais caminho e daquele ficará para sempre o já percorrido. Além disso, as gratas memórias da sua existência já serão suficientes para deixar na alma um suave e doce sabor de felicidade, por ter podido conhecer uma parte de mim que não sabia existir e com ela, através dos outros, ter podido crescer muito mais.
Numa das curvas encontrei os habituais grupos a pedir boleia. Este ano não cheguei a oferecer os meus préstimos a ocupas, hippies ou surfers... Garanto que eu saía sempre a ganhar, porque nem as boleias são de graça. As minhas eram sempre pagas com uns quantos dedos de enriquecedora conversa... No fim sobrava muitas vezes apenas a areia... das pranchas, claro!

Preparava-me para parar no café do costume para o terceiro abastecimento de cafeína da manhã quando o trânsito - sim, no Verão quase há trânsito por estas paragens - abrandou numa zona de curvas apertadas. À medida que íamos avançando percebi que se tratava de um cão de pequeno porte, literalmente atarantado no meio da estrada, que só por sorte ainda não tinha sido atropelado e só por milagre não o seria, muito em breve. O meu coração disparou à medida que o deixava ficar para trás, na absoluta impossibilidade de parar naquele local. À medida que avançava a minha única vontade era voltar para trás, ideia reforçada pelos ó mãe, coitadinho!... da M. Claro está que, junta a fome com a vontade de comer, a única solução que encontrei foi a de encostar o carro na primeira zona de segurança que encontrei e aventura-me na insegurança de me fazer ao caminho de volta, a pé, para o tentar encontrar. Para quê?... Bem o óbvio é que ainda não sabia bem, embora soubesse que já não havia volta a dar. Pouco depois, um pequeno chouriço entrava no carro para o banco traseiro, para satisfação da M. e preocupação minha, porque dali para a frente tinha em mãos uma tentativa de solução para um problema muito provavelmente irresolúvel. Mas talvez seja escusado dizer muito mais, para além de que fui sujeita a uma verdadeira lavagem ao cérebro, pela mocinha que seguia no banco de trás, certo?...
Quis o destino que ignorasse o café no local do costume e rumasse a outro mais acima, cuja proprietária me inspirou a segurança de ter um belo petisco que saciasse a fome do bicho e uma bela tigela de água que lhe matasse a inequívoca sede.
Eis senão quando, depois de satisfeito o capricho da fome com um belo prato de leite com bolachas Maria, a dita senhora se lembrou de conferir o aspecto do nosso mais recente fiel amigo com o de um apelo que estava colado no seu café, onde a fotografia do desaparecido em tudo se assemelhava ao focinho daquele. Feita a chamada para o numero indicado, tivemos em cerca de vinte minutos uma dona desesperada em busca do tesouro perdido.
Infelizmente, apesar das muitas parecenças, aquele não era o Blackie que a senhora inglesa procurava em vão desde 4 de Julho. Visivelmente ansiosa, confidenciou-nos que dava hoje inicio ao processo de adopção de uma criança com quatro anos e que por isso estava muito nervosa com toda a expectativa da primeira entrevista e ainda com o facto de ter criado a ilusão de que o cão encontrado fosse o seu. Ainda assim, e perante o afecto extraordinário que o animal lhe dedicou, como se pressentisse em si um novo lar, dispôs-se a leva-lo ao veterinário para verificar se tinha algum chip e deste modo poder encontrar os seus verdadeiros donos. E se não tivesse?...
Bom, talvez o pudesse adoptar...
Missão do dia: CUMPRIDA.
* queira a vida que com um duplo final feliz!

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