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terça-feira, novembro 17

Sobre a Vida e a morte

Hoje, o nosso António faria anos. Já não sei quantos. Sei apenas que muitos. O nosso António era o nosso António, porque certamente que nenhum dos que com ele privaram conheceram um António igual. Antónios há muitos mas como aquele nenhum. Não porque fosse um homem perfeito. Nada disso. Antes pelo contrário. Era um homem perfeito na sua imperfeição. Amigo incondicional dos seus amigos. Inimigo, declarado e visceral dos seus inimigos. Um homem entre o 8 e o 80. Um homem de causas. Um homem de princípios. Um homem de paixões. Um homem de birras. Um homem, que cada um de nós conheceu à sua maneira e em fases diferentes da vida, mas que morreu, como bem disse a sua mulher após a sua morte, de pé, como as árvores.
Em 4 de Maio de 2004, exactamente um ano depois da partida da minha avó, este Homem despediu-se da vida, e julgo que finalmente em paz com ela.
Hoje o nosso António faria anos. São muitos os dias que falo dele, porque o seu espaço transcenderá para sempre aquele que o seu corpo físico habitava, mas hoje foi mais fácil recordá-lo. E além de tudo o resto será sempre o padrinho da minha filha.
Hoje a Tita faz anos. A Tita é, como costumo carinhosamente chamar-lhe, a minha tia preferida.
E eu gosto de ver famílias reunidas. Crianças brincando de roda de uma mesa, colorindo as toalhas de papel para entreter o tempo que os adultos incompreensivelmente não despacham. Gosto de conversas cruzadas, de alaridos de reencontros. Gosto destes momentos e gosto da minha tia - sobretudo porque faz o melhor arroz doce do mundo e trata os netos por estes moços, naquele seu sotaque ímpar.
Sempre convivi bem com a realidade da morte. Sempre percebi que é uma inevitabilidade. Acho sobretudo que sempre a assimilei como um evento sem hora marcada. Talvez por isso tenha lidado tão bem com ela durante três dos mais enriquecedores anos da minha vida profissional. Talvez por isso também sempre tenha defendido que a morte é, sempre, um eterno apelo para a vida.
É certamente por isso que acho que seria importante que todos os dias nos lembrássemos de celebrá-la, como se fosse, simultaneamente, o nosso primeiro e último dia de Vida.

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