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terça-feira, setembro 8

Senhas cor de rosa, emprego e produtividade ou Back to Centro de Emprego - cont.

Sabiamente aconselhada de véspera por quem anda há certamente mais tempo nestas lides do que eu, hoje fiz do alarme do meu telemóvel música para os meus ouvidos às seis da manhã e ainda não eram sete já estava à porta do meu mais recente amigo, o meu querido Centro de Emprego.
Pelo caminho que decidi fazer a pé, porque de minha casa ao centro da cidade onde ele se encontra distam apenas cerca de quinze minutos por este meio de transporte, relembrei algo que só tinha tido oportunidade de relembrar há cerca de quatro meses atrás, quando larguei de casa desembestada ainda a manhã se fazia mulher para os lados da Feira da Ladra, atrás do computador que me havia sido roubado na véspera. Relembrei como é bom percorrer a cidade enquanto dorme e estar já bem desperta quando ela acorda, para a ver espreguiçar-se e começar o dia.
Quem como eu já começou os dias bem cedo, por aquelas horas em que muitos ainda dão a primeira volta na cama, sabe bem como as primeiras horas de uma manhã têm outro cheiro, outra cor, outros silêncios e ruídos e outro sabor. E não é o meu eterno romantismo que aqui fala. É a mais pura realidade que, naturalmente, só quem como eu fez, por exemplo, um curso tendo como único meio de transporte os veículos públicos ou ainda faz uma vida assim, pode confirmar.
Sabia que ao toque das seis não podia sequer vacilar. Nem mais um segundo, quanto mais um minuto. Já todos sabemos no que costuma dar essa brincadeira e com quantos piropos se costuma brindar a começos de dia assim... Mas foi quando finalmente saí à rua que percebi o quanto já tinha saudades de um ritual assim.
Serve esta introdução para começar por dizer que tive hoje a oportunidade de desfrutar das maravilhas que encontro em começar um dia tão cedo assim. E nem quero ser ofensiva, é claro que há gente que o começa bem mais cedo do que isto e que provavelmente me diria por outras palavras menos poéticas que romântico, romântico, é ficar na cama a ouvir chover nos dias de temporal e não sair para a rua para as filas dos transportes pelas cinco ou seis da manhã!
Bem, mas voltando ao que importa... afinal por onde anda essa gente? Quantos são?... É que não podendo dizer que resida numa zona elitista, onde apenas uma ínfima camada da população se tem de levantar cedo para cumprir horários e usar os transportes públicos ou privados para lá chegar, cumpre perguntar o que é feito da populaça que, supostamente, faz o país girar?... É que de carro também não os vi!!!
Continuando: cheguei à porta do meu mais recente amigo ainda faltavam cinco para as sete. Abre, de par em par as suas portas amigas, às nove. À minha frente já tinha dez pessoas.
O meu mais recente amigo fica no centro da cidade, estrategicamente colocado num cruzamento de uma das suas principias artérias. Por ali passam muitos e muitos autocarros, com os mais diversos destinos. Para meu espanto, o cenário manteve-se. Em todos os autocarros que por ali passavam havia espaço para fazer baile ou assistir a que o mesmo começasse, sentado. O resto do trânsito poderia qualificar-se, no mínimo, de tímido. E mais depressa engrossou a fila dos meus comparsas, que se prolongou atrás de mim por cerca de dois quarteirões, do que as de trânsito pelas ruas à minha volta.
Como sei que por volta das dez da manhã costuma haver transito por todo o lado e que por volta das cinco da tarde já toda a Lisboa e arredores começa a ficar intransitável, não posso deixar de me perguntar é como é que este país ainda não declarou oficialmente a falência. Se metade da população dorme enquanto a outra vai esperando, em posição de grou, pela abertura das portas dos Centros de Emprego, quem para além dos poucos trabalhadores da construção civil que se vêm ainda mais pretos para ganhar a vida e que foram praticamente os únicos com quem me cruzei nas horas mais tenras do dia, quem é que faz alguma coisinha para que se deixe de dizer que este país não é DEFINITIVAMENTE um país produtivo?...
E pode com muita legitimidade observar quem me lê que se me dou ao luxo de um texto nostálgico, sobre os dias do cedo amanhecer, é seguramente porque faço parte dos que tarde engrossam as ruas. E não deixa de ser verdade, mas não por ver a vida a cor de rosa e, definitivamente, não por desejar ficar a olhar para ela com senhas da mesma cor.

1 comentário:

O teu raio de sol...

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